Breve explanação sobre a obra
A série de autorretratos que submeto ao Edital MOSTRA FORA DA MARGEM: Panorama Visual das Subjetividades Queer, são realizados em tinta acrílica sobre tela, no tamanho de 81 x 60cm. As imagens utilizadas de referência para pintura são resultado de uma sessão de fotos que realizei, com iluminação direta, deixando o modelo em evidência e o fundo no breu. Com o rosto maquiado, buscando uma aparência andrógina e expressiva, criou poses que se relacionem com a ideia dos cinco sentidos (audição, olfato, visão, tato e paladar). Após escolher uma fotografia para imagem de referência, começa o processo pictórico. Utilizando cores complementares (azul e laranja, vermelho e verde, amarelo e roxo) para o início da marcação de luz e sombra. Assim a paleta de cores utilizada varia de acordo com as cores inicialmente escolhidas. A imagem vai sendo criada, inicialmente, por pinceladas mais densas e expressivas, e conforme os volumes e expressões vão sendo criados, a tinta é utilizada de forma mais aguada e transparentes, criando efeitos de escorridos, buscando propositalmente que a tinta escorra e crie linhas verticais.
Pensando nas construções da masculinidade na nossa sociedade, criei essa série para discutir o quanto somos podados e forçados a manter a postura masculina normativa, que exclui a expressão dos sentimentos, a empatia, a demonstração de afeto, e afins. Uma construção que acaba por estabelecer um sentimento de solidão em relação ao mundo na medida em que só podemos traçar relações de real confiança com outros homens que seguem essa norma.
Ao me colocar como um homem que não se enquadra dentro desse padrão, tanto pela sexualidade quanto pela feminilidade que performo, monto essa série de pinturas pensando no quanto essa norma fere não somente a mim, mas também a todos os que se submetem a essa forma excludente que se impõem como sendo o masculino.
Utilizar a fotografia me permite encenar momentos que antes só existiam no imaginário, tornando-os presentes pela encenação, e portanto registráveis. O meu trabalho com a pintura acaba se tornando um registro de um registro, o que o deixa distante da realidade a recriação de uma imagem e não do presente, mas sim de um instante que já passou e se perdeu na memória, podendo lembrar do dia apenas olhando a data do arquivo digital.
O que faz dos meus autorretratos serem imagens (ou retratos) de personagens, é a própria pintura, com ela dou carne para esse ser, um espaço e tempo pra ele existir e o conheço cada vez mais a cada nova camada que nele surge. Meus personagens tem a minha imagem não por serem assim, mas porque enquanto eles estiverem dentro de mim essa é a única forma que ele pode assumir. E só posso representá-lo quando estou em sua ausência. “O desejo de representação só existe na medida em que nunca é preenchido, na medida em que o original é sempre diferido. É somente na ausência do original que a representação pode dar-se” (CRIMP, 1980)1.
1 GRIMP, Douglas “A atividade fotográfica do pós-modernismo”. Arte e Ensaios Revista do programa de pós-graduação em arte visuais EBA. UFRJ 2004.




Currículo
Eduardo Thomazoni é natural de Três Coroas, nascido no ano de 1996, desde muito cedo demonstra interesse por desenho e animação o que o leva a mudar-se para Porto Alegre no ano de 2014 para estudar artes visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em seus primeiros anos de graduação desenvolve interesse pelo campo da pintura e em 2016 ingressa no grupo de extensão Studio P: Atelier livre de pintura, coordenado pela Professora Doutora Marilice Corona desenvolvendo diversos trabalhos coletivos e pessoais na área.
No ano de 2017, participa da exposição da exposição coletiva no eStúdio, realizada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre. A exposição reunia obras dos artistas, que na época, integravam o Studio P.
No mesmo ano, participa da exposição coletiva Conversas: desenho e pintura em pauta com o trabalho coletivo Panorâmica 1 realizado pelos integrantes do grupo Studio P. O evento ocorreu na cidade de Novo Hamburgo, e foi realizado pela instituição FEEVALE.
A exposição coletiva, Quanto mais eu pinto, mais eu vejo. Quanto mais eu vejo, mais cor aparece, foi realizada em Porto Alegre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no ano de 2018. Tendo como participantes os integrantes do grupo Studio P. Em homenagem a participante Thiana Sehn, que faleceu no mesmo ano, o título dessa exposição faz referência a frase emblemática da artista.
Eduardo conclui a graduação 2020. Suas obras têm como temas frequente a sexualidade, gênero, raça e demais marcadores sociais que fazem parte da identidade do artista e de todos nós, quer estejamos cientes de nossos privilégios ou não. Em seus últimos trabalhos busca unir seu trabalho em pintura com experiências em novas mídias, criando debates sobre bigdata e as formas que as redes sociais cerceiam nosso livre arbítrio sem percebermos.
E-mail: edu.thomazoni@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4322645454794609
Ficha técnica
Título: Cheire como homem
Acrílica sobre tela, 81 cm x 60 cm, 2019
Título: Saboreie como homem
Acrílica sobre tela, 81 cm x 60 cm, 2019
Título: Escute como homem
Acrílica sobre tela, 81 cm x 60 cm, 2019
Título: Sinta como homem
Acrílica sobre tela, 81 cm x 60 cm, 2019